Endividamento atinge 66,7% dos fortalezenses em abril

Acompanhando o comportamento de alta observado em março, o endividamento dos consumidores de Fortaleza continuou avançando, mais fortemente, em abril. Na passagem mensal, o índice saiu de 63% para 66,7% dos fortalezenses. Por outro lado, a taxa de inadimplência – que, em março (10,2%), chegou ao maior nível desde dezembro de 2016 (7,2%) –, voltou a cair após três altas seguidas, para 8,7% neste mês. O volume de consumidores com dívidas em atraso também caiu no período, de 23% para 22,1%. As informações são da Pesquisa de Endividamento do Consumidor de Fortaleza, divulgada, ontem, pela Federação do Comércio do Estado do Ceará (Fecomércio-CE).

No comparativo anual, dois dos quatro indicadores analisados também tiveram alta, como é o caso dos consumidores inadimplentes, que pontuaram 8,7%, e o comprometimento da renda familiar, com 38,2%. Em abril de 2016, esses índices eram de 8% e 31,9%, respectivamente. Ainda nessa análise, apenas o endividamento e a proporção dos consumidores com dívidas em atraso recuaram, já que, em abril do ano passado, chegaram a 73% e 22,7%, nessa ordem.

Acomodação
Em relação a março último, a inadimplência potencial – proporção de consumidores que não terão condições financeiras para honrar seus compromissos – recuou 1,5%, contrariamente ao observado em março, cujo índice (10,2%) foi o maior em oito meses seguidos, e, desde janeiro, não parou de subir. Com a primeira retração mensal do ano, segundo destacou a Fecomércio-CE, em nota, a taxa, ainda superior à de abril do ano passado, é inferior à média dos últimos 12 meses (9,5%), “indicando uma acomodação do indicador”. O avanço da inadimplência potencial está mais presente entre as mulheres (9%), pessoas com idade acima de 35 anos (10,3%) e de renda familiar abaixo de cinco salários mínimos (9,7%). Em todos esses perfis, os índices mostraram redução, já que, em março, chegaram a 12%, 12,4% e 11,1%, respectivamente.
A proporção dos consumidores com contas ou dívidas em atraso teve queda de 0,9%. Os problemas financeiros afetam mais as mulheres (23,2% afirmam possuir contas em atraso), consumidores com idade superior a 25 anos (23,3%), e com renda familiar abaixo de cinco salários mínimos (23,9%). Enquanto isso, o comprometimento da renda para quitação de dívidas, ao atingir 66,7%, corresponde a uma alta de 3,7% – enquanto que, em março (61,4%), a elevação foi de 1,6%.

Entre os instrumentos de crédito mais utilizados pelos consumidores, estão cartões de crédito, que, de março para abril, foram usados por 82% dos entrevistados; seguidos de financiamento bancário (veículos, imóveis etc.), com 13,1%; carnês e crediários (9%); e empréstimos pessoais (8,6%). Em abril, 57,3% dos fortalezenses precisaram recorrer ao crédito para complementar os gastos com alimentação. Na sequência, o crédito foi também utilizado para despesas com educação e saúde (37,3%), aquisição de eletroeletrônicos (35,8%) e compra de artigos de vestuário (32,7%).

Descontrole
Segundo a pesquisa, o tempo médio de atraso é de 64 dias e a principal justificativa para o não pagamento das dívidas continua sendo o desequilíbrio financeiro – a diferença entre a renda e os gastos correntes – citado por 64,6% dos consumidores. O segundo motivo mais citado é o adiamento por conta do uso dos recursos em outras finalidades, com 32,2%, seguido da contestação da dívida (10,4%).
Dos fatores que os consumidores consideram que mais contribuem para a inadimplência, a falta de orçamento e controle dos gastos (35,2%) contrariam o planejamento financeiro. Em seguida, aparecem outros fatores como: compras por impulso, sem necessidade ou além do necessário (28,8%); aumento dos gastos considerados essenciais (25,2%); compras antecipadas (20,7%); redução dos rendimentos (15,6%); e desemprego (14,1%).
O levantamento mostra, ainda, como dado positivo, que 75,3% dos consumidores de Fortaleza afirmam fazer orçamento mensal e acompanhamento eficaz dos seus gastos e rendimentos, o que contribui para um melhor controle dos níveis de endividamento. Dos entrevistados, 13,8% relataram que fazem orçamento dos rendimentos, mas sem controle eficaz dos gastos e 10,9% dos entrevistados informaram não possuir orçamento e tampouco controle dos gastos.

Melhoria deve vir no médio prazo
Ao avaliar os índices da pesquisa de endividamento, a diretora institucional da Fecomércio-CE, Cláudia Brilhante, destacou que o crescimento do endividamento em abril (3,7%) pode parecer alto, “mas ao analisar a pesquisa como um todo, tivemos uma queda do potencial de inadimplência – que é aquela pessoa que está desempregada há mais de seis meses, e que está devendo muito e não tem mais como pagar”. “E (neste mês) ela conseguiu pagar, já que tivemos uma queda de 1,3% – o que é muito bom para o comércio –, assim como no número de pessoas com contas em atraso”, ressalta a dirigente. Segundo ela, a pesquisa mostra que as pessoas que receberam as contas inativas do FGTS priorizaram o pagamento de dívidas e, com isso, elas estão voltando a ficar economicamente ativas.

Ao comentar sobre o uso do crédito para itens de alimentação, ela classificou como “um grande erro, mas esse problema, a partir do próximo mês, vai começar a ser estancado”. Ela fez referência às novas regras do cartão de crédito, em vigor desde o início de abril, que devem favorecer a melhora dos indicadores. “Obrigatoriamente, as pessoas, parcelando (o saldo devedor), terão um prazo para terminar de pagar. Até então, o que acontecia é que elas pagavam juros sobre juros e nunca terminavam essa conta com as financeiras”, explicou a dirigente. “Então, no médio prazo, lá para dezembro, vamos começar a ter retorno disso, as pessoas conseguindo se livrar dessas dívidas do cartão de crédito, automaticamente, voltam a se tornar consumidores ativos”, prevê.

Diante disso, a diretora observou que, apesar economia ainda difícil, a estimativa é de melhora. “Acreditamos que teremos crescimento para o Dia das Mães, assim como já tivemos boas vendas na Páscoa. Sabemos que são melhoras extremamente suaves, porque, realmente, a crise que o País está enfrentando é muito grave, mas já surge uma luz e isso é muito bom”, finalizou Brilhante.

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