Endividamento atinge 60,8% das famílias

A dificuldade financeira das famílias ainda persistiu em 2017. No ano passado, observou-se um aumento de 0,6% do número médio de famílias com dívidas com cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnês, financiamento de carro e financiamento de casa, entre outras, em relação ao total. Foi a primeira alta do indicador em três anos, considerando as médias anuais. Ao todo, 60,8% do total das famílias brasileiras estão nessa situação, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada, ontem, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Após uma queda no segundo trimestre do ano, o percentual de famílias com dívidas permaneceu acima do patamar observado em 2016 e ao longo de todo o segundo semestre de 2017, sendo que, em dezembro, o índice mensal chegou a 62,2% – o patamar mais alto entre o mês de dezembro. “A recuperação, ainda que lenta, da atividade econômica, aliada à redução das taxas de juros, queda da inflação e reversão, ainda que modesta, das taxas de desemprego, ajuda a explicar a maior disponibilidade de crédito para as famílias e consequente endividamento”, explica a economista da CNC Marianne Hanson.

Inadimplência
Os indicadores de inadimplência da pesquisa também apresentaram alta em 2017. Em relação a 2016, o percentual médio de famílias com contas ou dívidas em atraso aumentou 1,2 ponto percentual. O indicador permaneceu o ano todo acima do patamar observado em 2016 e, com exceção do primeiro trimestre de 2010, nos maiores patamares da série histórica. Entretanto, após alcançar o maior patamar do ano em setembro (26,5%) apresentou tendência de queda no último trimestre do ano. A média anual do percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso alcançou 25,4% do total em 2017, ante 24,2% do ano anterior.

Já aquelas que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e, portanto, permaneceriam inadimplentes, aumentou 1,1%, ante o ano anterior. O indicador permaneceu o ano todo em patamares históricos elevados, alcançando o maior patamar em setembro de 2017 (10,9%). Assim como o percentual com dívidas em atraso, o percentual sem condições de pagar apresentou tendência de queda no último trimestre do ano, porém, alcançou no fim do ano o maior patamar histórico para meses de dezembro – 9,7% do total de famílias.

Modalidades
Assim como nos anos anteriores, o cartão de crédito foi o tipo de dívida mais citado pelas famílias brasileiras em 2017, por 76,7% daquelas que disseram ter dívidas, na média anual. Contudo, pela primeira vez desde o início da pesquisa, houve redução do percentual que aponta essa modalidade como o principal tipo de dívida – que atingiu 77,1% em 2016. Em segundo lugar, ficou o carnê (15,7% das famílias), e, em terceiro, o crédito pessoal (10,3%). Além do cartão de crédito, também foram menos citadas as modalidades: cheque especial (6,7%), cheque pré-datado (1,4%) e financiamento de carro (10,2%). Destaca-se a maior importância do crédito habitacional (8,2%) e do crédito consignado (5,6%), em comparação com o ano anterior.

Houve redução do comprometimento de renda como pagamento mensal das dívidas, o que evidencia a diminuição do custo do crédito em relação à renda familiar. A mudança na composição das dívidas ajuda a explicar essa tendência em 2017, já que houve menor participação de modalidades mais caras, como cartão de crédito (quando utilizado no rotativo) e cheque especial, e aumento de modalidades com custo mais baixo, como crédito consignado e financiamento de casa. A parcela média da renda mensal comprometida como pagamento de dívidas passou de 30,6% para 30,1% no período.

Dívidas afetam mais famílias com renda menor
Apesar da redução do comprometimento de renda, entre as famílias endividadas, houve piora na percepção de uma parcela delas em relação ao seu nível de endividamento, já que um número maior de famílias relatou estar muito e mais ou menos endividado. A média anual do percentual das que relataram estar muito endividadas aumentou de 14,5% em 2016 para 14,6% em 2017. Adicionalmente, na mesma base de comparação, 23,8% relataram estar pouco endividadas em 2017, ante 24,3%, segundo a CNC.

Entre as duas faixas de renda pesquisadas (até dez salários mínimos e acima de dez salários mínimos), houve divergência na trajetória de endividamento das famílias. Enquanto na faixa de renda inferior houve aumento do percentual médio, passando de 61,7% em 2016 para 62,6% em 2017, na faixa de renda superior, houve redução de 52,3% para 51,7% entre 2016 e 2017.

Para a renda menor, houve aumento de 1,6% de famílias com contas em atraso, alcançando 28,7% das famílias desse grupo. Também houve aumento de 1,3% de famílias que disseram não ter condições de pagar suas contas em atraso e permaneceriam inadimplentes, nessa faixa de renda. De maneira oposta, observou-se redução do percentual na faixa de renda acima de dez salários mínimos, de 0,4%, alcançando 11,4% do total de famílias nesse grupo de renda. O percentual de famílias sem condições de pagar contas em atraso, por sua vez, apresentou elevação de 0,2%, alcançando 3,9% das famílias na faixa de renda superior.

Endividamento atinge 60,8% das famílias

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